21 de outubro de 2010

O Pródigo que sou

Quem pode gabar-se e sobrepor-se ao pródigo filho na parábola bíblica? Este pediu ao seu pai sua parte na herança e lançou-se ao desperdício. Gastou todo o dinheiro em uma vida de pecado. Quando chegou a fome o jovem não teve como saciar a sua necessidade mais fundamental. Caindo em si, lembrou-se de seu pai, e decidiu pedir para trabalhar com os outros servos. Seu pai o aceitou e festejou sua volta e o fez estar como filho, não como servo.

Na narrativa segundo escreveu Lucas no capítulo 15 a partir do verso 11, o filho é descrito como imaturo, irresponsável, insensível e inconseqüente. Abriu mão do melhor para experimentar o novo, o desconhecido. E nós também somos assim. Nós que conhecemos o Pai, que sabemos o quão confortável são seus ombros, que provamos dos sabores caseiros de sua mesa, que descansamos nos cômodos silenciosos de sua morada, que já habitamos à sombra de suas asas e sob os seus cuidados. Nós também somos pródigos. Mas como?

Quanto tempo desperdiçado de nossas curtas vidas com pecados tão demorados. Quanto tempo empenhado para vícios secretos que arruínam nossos dias. Quantas armas que poderiam ser úteis e as tornamos brinquedos de nossos deleites. E as pessoas que nos relacionamos que poderiam conhecer o Pai através de nós, mas só os fazemos conhecidos dos nossos pecados e desejos iníquos.

Que o Espírito nos faça cair em si e lembrar que na casa do Pai existem trabalhadores melhores que nós. Que Ele nos faça entender que não se pode voltar à Casa do Pai exigindo direitos de filho. Todos os nossos direitos foram desperdiçados. Mas se voltamos, como servos, arrependidos, humilhados e famintos o Pai irá nos restaurar.

Ao observar a vida do irmão do pródigo na parábola - aquele que reclamou com o Pai sobre o fato de nunca ter sido festejado por sua fiel presença - duas coisas ficam claras. A primeira é que este fiel filho era realmente fiel. Ser um filho como este, que não tem coragem de deixar a presença do Pai em busca do nada é ser vencedor. Mas a segunda coisa que este filho me revela consegue inquietar-me. O fato deste irmão não se alegrar com a volta do irmão e questionar seu pai sobre sua própria festa, revela o coração inseguro, vulnerável e propenso deste filho vindo a ser mais um pródigo da cada do Pai. Contudo acredito que o filho pródigo, ao voltar a sua casa, numa tarde de domingo, tomando café na varanda, conversando sobre a vida com seu irmão fiel, certamente o dirá: “Quer um conselho meu irmão? Já fui em vários lugares e provei muitos prazeres, mas nenhum prazer se compara em estar aqui com você e com nosso Pai”. Logo o coração fiel será envolto de certeza e seu ânimo renovado.

Hudson Almeida, que sabe o que é desperdiçar, mas quer investir naquilo que trará bons frutos.

13 de outubro de 2010

Criança é uma Graça

Criança é uma graça. Um dia desses, fui levar o filho do meu patrão, de dez anos, à escola. Aproveitei que o dia estava ensolarado e pus o óculos escuro que ganhei de presente de um amigo gaúcho. O óculos é bonito, armação pesada, de uma grife famosa (Não, não vou falar o nome). Eu estava, digamos, me sentindo. Quando páro em frente a casa do moleque, a primeira coisa que ele me pegunta ao entrar no carro é: "Hudson" ele olhou pros meus óculos e mandou "você está com conjitivite?". Ei danei a rir. Ele ficou confuso. Eu prefiri não explicar.

Outra vez aconteceu em casa com minha irmã de seis anos. Estava me arrumando para ir ao culto naquele domingo. Aproveitei que estava frio e vesti o paletó por cima de uma camisa social branca. Quando a mimi me viu disse: "Maninho, você vai ser padrinho hoje?". Ri demais. Ela também riu, mas não entendeu.

O melhor disso tudo é saber que a criança é sincera - salvo algumas mentirinhas inofensivas. A pureza, ingenuidade, simplicidade e as perguntinhas inocentes de quem reconhece que não sabe nada me lembram o que Jesus ensinou: O reino de Deus é simples, e só quem se fizer como uma criança poderá alcançá-lo.

Hudson Almeida, que costuma ser criança e luta pra não ser infantil

12 de outubro de 2010

Uma Flor, mataram...

Mataram uma flor. Despedaçaram suas pétalas. Sugaram seu néctar. Roubaram sua beleza. Sufocaram suas folhas, tirando-lhe a respiração.

Diziam: “Você precisa ser flor! Precisa exalar perfume de Flor!”. Exigiram da flor o que ela seria naturalmente. Mas os espinhos cresceram muito. E eles queriam só a flor, não suportaram os espinhos. Os espinhos machucavam, furavam a carne. Faziam esquecer a beleza da flor. Chegavam sorrindo pela flor e saíam chorando por causa dos espinhos. Então, tiraram seus espinhos. Limparam todo o ramo, deixando só a flor.

Mas a flor não suportou. Quando tiravam-lhe os espinhos, balaçaram muito e a fágil flor despedaçou. Então desprezaram a flor. Viraram as costas pra ela. Era uma flor sozinha, sem espinhos e sem admiradores. Sem pétalas e sem beleza. Sem perfume e sem flor. A flor não suportou.

Amanhecia todos os dias esperando suas últimas pétalas secarem. Morria a cada alvorada. Cada Pôr-do-Sol era uma despedida. Despedida pra ninguém, despedida pra luz da vivência, pro calor da existência. Chorava a flor, sua morte a fazia sofrer.

Então morreu. Morreu matada. Morreu sem a chance de redimir-se. Morreu não no caixão da funerária, não no boquê apaixonado, não no frasco do perfume. Morreu no útero. Morreu no caule, onde deveria viver.

E lá se foi mais uma flor. Quem se importa? O importante é tirar espinhos, esquecer que espinhos fazem parte da vida da flor. Mas uma nova flor renascerá. Pois mataram a flor, mas deixaram seu caule. Deixaram a raíz. A raíz está no chão, onde ninguém vê, e onde ninguém é incomodado por ela. A raíz deu vida ao caule, e o caule nos deu outra flor. E essa, gritava a vida, cantava a existência. Celebrava o conjunto. Até que vieram…

Hudson Almeida

5 de outubro de 2010

Versículos "bíblicos" que não estão na bíblia

1. “Onde está seu coração, ali está o seu tesouro.”

Este “versículo” é tão usado pelos presbíteros, e citado pelos cristãos em geral, que é difícil encontrar alguém que identifique sua falsidade. De forma que podemos considerá-lo até como um “aspirante a versículo”. Na verdade, a maioria dos evangélicos acredita que, tão certo quanto o fato de Deus ser composto por três Pessoas, estas palavras são da própria Bíblia. A confecção deste texto inverídico deve ter sido feita após uma leitura desatenta do Sermão da Montanha, especificamente na parte em que o Mestre prega sobre o ajuntamento ilícito de riquezas na terra. Repare a diferença entre o trecho original e o texto distorcido pelos homens:

“Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.”
(Mt 6.21)

Os descuidados invertem o dito do Senhor Jesus: colocam “coração” onde está escrito “tesouro” e põe “tesouro” onde está escrito “coração”. Isso para que dê a aparência de que Cristo ensinava que não importa a quantidade de bens materiais que a pessoa possua: bastaria ela colocar o coração em Deus que estaria tudo resolvido.

O que Jesus disse, realmente, é que nós podemos saber onde está o coração de uma pessoa observando onde ela ajunta suas riquezas: no céu ou na terra.

Vale lembrar que isso não condena o enriquecimento material, defendido como uma bênção divina em toda a Bíblia (Ec 5.19; 1Tm 6.17). O Messias estava apenas usando um recurso semítico de linguagem, comum na Bíblia, onde o lado natural era enfraquecido para enfatizar o lado espiritual. Por exemplo:

a) "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna..." (Jo 6.27)

Será que Jesus estava condenando o hábito de trabalhar pelo sustento material, ou Ele queria apenas dar importância ao ato de buscar as coisas de Deus? Outro exemplo do recurso semítico usado por Jesus é encontrado no Antigo Testamento, onde José diz:

b) "...não fostes vós que me enviastes para cá, e, sim, Deus…" (Gn 45.8)

Assim, poderíamos concluir que os irmãos de José não o mandaram para Egito. Mas, quatro versículos antes, ele havia dito: "Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito." (vs. 4)

Pregando sobre a forma de amar aos semelhantes, o apóstolo João declara:

c) "Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade." (1Jo 3.18)

Fica claro que João não desejava proibir o uso de palavras no exercício do amor, mas somente afirmar que o amor não pode se limitar ao uso delas. De qualquer forma, não devemos e não podemos criar textos bíblicos para defender o ajuntamento de riquezas terrenas, pois a própria se encarrega de fazer tal defesa em inúmeras outras porções.

2. “A fé vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus.”

Igual ao versículo anterior, esta frase é corriqueiramente declarada aqui e ali, sempre que o assunto tocado é fé. Ele é tão engenhosamente elaborado que muitos homens e mulheres de Deus o “soltam” de vez em quando, crendo piamente de que estão proferindo a Palavra de Deus. Na verdade, o que a Bíblia ensina é:

“De sorte que a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus.”
(Rm 10.17) [ARC]

O apóstolo dos gentios está afirmando que o “ouvir” é produzido pela Palavra de Deus, e que é por esse “ouvir” que vêm a fé. É bem diferente do que os descuidados fazem a Bíblia parecer ensinar, pois, conforme a “pérola” pseudo-escriturística que eles criaram, é o ouvir do homem que gera a fé. Para entender melhor a diferença entre as versões de Rm 10.17, veja o que diz a Revista e Atualizada:

“E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo.”

A palavra “ouvir”, empregada em várias traduções, tem o sentido de “entender”, “compreender” a mensagem do evangelho, por meio da pregação expositiva, e não ao mero ato de escutar.

3. “Os anjos queriam pregar o Evangelho, mas Deus reservou esta tarefa aos homens.”

É difícil entender de onde se originou esta tese teológica. Ela é tão espalhada pelas igrejas que se tornou quase um “adendo” popular à Bíblia, um versículo extraído da cartola mágica cada vez que se fala sobre a necessidade de levar as boas-novas aos perdidos. Apesar da raiz desta árvore infrutuosa não ser de tão fácil identificação, podemos sugerir que ela se encontra nas palavras de Pedro, o apóstolo dos judeus:

“A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar.” (1Pe 1.12)

Talvez alguém que não conhece o sentido do termo “perscrutar” tenha lido o texto e daí tirado uma falsa conclusão, imaginando que o pescador de homens teria escrito que as “coisas” que os anjos anelam perscrutar é a atividade da pregação, e que perscrutar significa “fazer”. Embora seja essencial conhecer o sentido dos termos usados na Bíblia, o indivíduo que fez o versículo “abíblico”, que estamos desmascarando, vir à luz, não precisava recorrer ao dicionário para interpretar adequadamente o escrito de Pedro.

Veja o que diz a Revista e Corrigida:

“..para as quais coisas os anjos desejam bem atentar.”

A tradução dos monges de Maredsous reza:

“Revelações estas, que os próprios anjos desejam contemplar.”

O que os seres celestiais desejam receber são as revelações proféticas de Deus, e não o encargo de levar o evangelho aos pecadores.

4. “E vi uma taça de ouro no céu. E perguntei: Que é isso, meu senhor? E me respondeu: Lágrimas de santos.”

Diferentemente das revelações divinas que os anjos queriam conhecer, as invenções humanas que vimos até aqui são pérolas baratas, recolhidas nas águas rasas do relaxo para com a Palavra de Deus. O pseudo-versículo transcrito acima foi citado duas ou três vezes por um querido pastor, a quem considero como grande pregador, e que possui uma igreja de tamanho médio, o que prova que ninguém está livre de soltar das suas “furadas” de vez em quando.

Este presbítero afirmou, com uma certeza tão segura quanto sua fé na auto-existência de Deus, que o diálogo acima foi tecido durante uma visão do apóstolo João, no livro de Apocalipse. Por incrível que pareça, ele não se preocupou em procurar este texto na Bíblia, quer antes de citá-lo, quer após, na repetição de seu erro. O mais próximo que lemos no livro das revelações ao que o referido pastor disse é o que segue:

“E, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos.” (Ap 5.8)

“Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, que são e donde vieram? Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro (...) E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.” (Ap 7.13,14,17)

A junção desalinhada destes versículos deve ter resultado naquela prole híbrida que, infelizmente, foi apresentada no púlpito daquela congregação ao povo que ali estava, como sendo a Palavra de Deus. Resta saber quem foi o pai da criança, o qual não apareceu na apresentação da bastarda.

5. “Ficai em Jerusalém até que seja glorificado do alto”.

Igual ao versículo anterior, esta “muamba” é o resultado da fusão de dois textos inspirados. O que o torna mais abominável que todos os outros é que tem, em sua genealogia, um problema semelhante ao visto na distorção de 1Pe 1.12: a falta de compreensão acerca de uma determinada palavra.

“Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de águas vivas. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque Jesus não havia sido ainda glorificado.” (Jo 3.37-39)

“E, comendo com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, a qual, disse ele, de mim ouvistes” (At 1.4)

Durante um estudo bíblico que ocorria em uma célula um certo rapaz, a quem estimo e tenho como um servo de Deus, disse que havia uma parte da Bíblia em que Jesus aconselhava seus apóstolos a ficarem em Jerusalém até que Ele fosse glorificado, ocasião em que o Espírito Santo desceria sobre eles. De acordo com aquele jovem, isso significava que Cristo ficou esperando que os discípulos o louvassem, glorificando-o, a fim de que o batismo no Espírito Santo fosse concedido a eles. Na realidade, o apóstolo do amor, em sua biografia de Jesus, não empregou a palavra “glorificado” com o sentido de “elogiado” ou “louvado”. Eles quis dizer que Jesus, como homem, ainda não havia sido “engrandecido”, ou “exaltado”, o que só ocorreria quando fosse levado à presença de Deus, a fim de se sentar ao lado do trono e ser reconhecido como Deus por Sua criação (Fp 2.9-11; cf. Is 45.23).

Confira o que a Bíblia na Linguagem de Hoje verte em Jo 7.39:

“Jesus estava falando a respeito do Espírito Santo, que aqueles que criam nele iriam receber. Essas pessoas não tinham recebido o Espírito porque Jesus ainda não havia voltado para a presença gloriosa de Deus.”

O apóstolo Pedro confirmou que Cristo foi glorificado por Deus, na ocasião de sua assunção e exaltação divina:

“Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis. (...) Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo.” (At 2.33,36)

6. “Toda a terra se encherá da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.”

Esta passagem fictícia é muito bonita – existe até uma canção que entoamos sobre ela em minha igreja – mas não faz parte dos escritos inspirados. Na realidade, o que a Bíblia afirma é:

“Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar.” (Is 11.9)

“Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar.” (Hc 2.14)

Como se vê, em momento algum se afirma que a terra se encherá da glória do Senhor. E isso para o desgosto dos que, mesmo com dezenas de anos de Evangelho nos ombros, tinham a frase supra-citada como sendo uma autêntica profecia divina.

7. “E Moisés disse: Que hei de fazer, Senhor? Pois eis que os egípcios se reúnem contra mim e contra este povo, a quem escolheste. E o Senhor disse a Moisés: Toca na águas.”

Deus não ordenou que Moisés tocasse no mar, e, realmente, não foi isso o que este profeta fez. Leia o relato singelo que se contrasta com a idéia exposta acima:

“Disse o Senhor a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta o teu bordão, estende a mão sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel passem pelo meio do mar seco.(...) Então, Moisés estendeu a mão sobre o mar, e o Senhor, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite, fez retirar-se o mar, que se tornou terra seca, e as águas foram divididas.” (Êx 14.15,16,21)

Para quem possui dúvidas, basta atentar em que Moisés dividiu o mar não pelo toque de seu bordão na água do mar, mas pelo fato de estendê-lo sobre a água, fazendo com que um vento leste soprasse por toda a noite até dividir aquela massa líquida, que teria se juntado ao sangue hebreu caso Deus não houvesse intervindo com tal milagre (que, repetindo, não envolveu nenhum toque de vara).

Parece que há pessoas que não gostam do legislador de Israel, pois, como se não bastasse ele haver tocado na pedra para dela extrair água – desobedecendo à ordem de Deus para somente falar à pedra –, ainda querem fazê-lo incorrer em um delito de igual gravidade. Deste jeito, não era nem preciso esperar chegar nos limites de Canaã: nem mesmo da terra do Egito o escolhido de Deus teria passado. Tsc, tsc, tsc...

8. “Jovens, vós sois a força da igreja.”

A fim de defender a importância dos cristãos jovens, um querido e dedicado líder de igreja tinha por costume citar este “versículo”, a fim de dizer que eles seriam o motor do Corpo de Cristo. Isso é uma distorção grosseira e irresponsável da Palavra de Deus, que afirma algo muito diferente, porém também honroso acerca dos jovens convertidos do 1º século:

“Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno.” (1Jo 2.14c)

Oremos fervorosamente para que os jovens da Igreja Contemporânea também exibam estas três características, removendo e enterrando o que é velho (cf. At 5.5,6) para dar lugar às coisas novas do Senhor, uma nova porção do Espírito que caia como vinho fresco sobre a Igreja (Lc 5.37-39; Ef 5.18), abundando em conhecimento da Palavra (Mt 13.51,52; 1Jo 2.20,27), para que esta venha a ter cumprimento: “...e os jovens terão visões” (At 2.17).

9. “E, aconteceu que, subindo a arca do Senhor a Jerusalém, ao som da harpa, do alaúde e da cítara, Davi dançava no Espírito, com todas as suas forças.”

Hoje em dia, há pessoas que não aceitam o que a Bíblia ensina, em sua totalidade, acerca do louvor a Deus. Apesar de tão espirituais, elas são atingidas por uma “micalite aguda” (cf. 2Sm 6.20), que soa como um gongo pseudo-moralista toda vez que, numa reunião de culto, um crente se coloca a expressar sua gratidão e alegria ao Senhor usando todo o seu corpo, além dos lábios e das mãos. Para disfarçar essa mentalidade carnal, alguns afirmam que Davi – e também a profetiza Miriã –, dançou tomado pelo Espírito Santo, em uma ocasião única e inigualável, ignorando outras porções escriturísticas (Jz 21.19,20; Sl 149.3; 150.4; At 3.8).

É certo que o rei hebreu dançou mesmo no Espírito. Afinal, tudo o que os servos de Deus fazem é sob a direção Dele.

“Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.” (Gl 5.25)

Se a dança davídica não fosse espiritual, o Senhor não teria se agradado dela, da mesma forma que Ele não se agrada quando alguém lhe entoa um cântico “na carne”, sem meios de render-lhe sacrifícios de louvor com os lábios (Hb 13.15).

Mas afirmar que o rei foi possuído por Deus enquanto levava a arca, dançando em estado de êxtase, é forçar o que está escrito e ir além da verdade – embora estas experiências fossem comuns entre os profetas daquele tempo.

10. “Tocava Davi sua harpa no palácio de Saul. E havia que, subindo sua adoração ao Senhor, o rei era liberto do espírito que o atormentava.”

Esse é um dos maiores mitos disseminados entre os evangélicos. As Escrituras não afirmam que Davi louvava a Deus perante o rei Saul, e tampouco que o demônio saía deste em razão da sua “adoração ungida”. Na verdade, os toques do jovem israelita, dedilhando as cordas de seu instrumento, acalmava a mente perturbada do monarca, causando-lhe um efeito terapêutico. Isso era meramente paliativo, pois o espírito voltava a atacar periodicamente, necessitando que Davi tocasse novamente para reverter o estado frenético em que o rei d’Israel ficava ao ser controlado por aquele demônio de loucura.

“E sucedia que, quando o espírito maligno, da parte de Deus, vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa e a dedilhava; então, Saul sentia alivio e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele.” (1Sm 16.23)

Isso revela que, muitas vezes, métodos humanos podem surtir efeitos benéficos sobre vítimas de espíritos de cegueira, epilepsia, mudez, transtornos mentais, e outros.

11. “Cristo virá, e os mortos ressuscitarão; num instante, num abrir e fechar de olhos, nós subiremos a ele, e para sempre estaremos com o Senhor.”

Creio que este seja um dos dez principais contrabandos, vendidos nas igrejas evangélicas, como autênticos versículos bíblicos. É de uma natureza tão torpe, que é triste averiguar a imensa popularidade que conquistou em todas as camadas, dos novos convertidos até os maiores mestres da Palavra. Veja por si mesmo o que ensina a Palavra divina:

“Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.” (1Co 15.51,52)

O que o ministro dos gentios está dizendo? Que o arrebatamento será tão rápido como um piscar d’olhos, ou que a transformação dos nossos corpos –de mortais a incorruptíveis– será assim? É claro que a segunda opção é correta.

Esta história de Jesus voltar e os cristãos serem transformados e transladados, num milésimo de segundo, conseguiu se entremear nas páginas bíblicas em razão da aceitação do dispensacionalismo, um sistema escatológico que ensina que a Igreja não passará pela Grande Tribulação. Como os crentes poderiam ser arrebatados sem que o mundo os visse subindo até o Senhor? A resposta está neste texto pseudo-escriturístico.

12. “Não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução; antes, embriagai-vos com o Espírito Santo.”

Esse é usado para defender as experiências de êxtase, nas quais os crentes balançam, caem, riem e fazem outras coisas mais. É uma tolice recorrer a uma invencionice tão descarada para embasar estas coisas. Há textos verídicos que abrem espaço para crermos que o Espírito Santo pode fazer as pessoas ficarem como ébrias. Para saber mais sobre isso, consulte o estudo “As Escrituras e os Êxtases Espirituais".

13. “Em verdade, em verdade vos digo: o diabo vem para matar, roubar e destruir. Mas eu vim para tenhais vida, e vida em abundância.”

“O ladrão não vem senão para matar, roubar e destruir. Mas eu vim para que tenhais vida, e vida em abundância.” (Jo 10.10)

Quem é o ladrão que mata, rouba e destrói? O contexto clarifica a identidade de tal personagem:

“Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.” (vs. 8)

No vs. 10, Cristo não está especificando uma pessoa em particular como “ladrão supremo”, que seria Satanás, mas afirmando um conceito genérico: uma pessoa que recebe o título de “ladrão” tem por ocupação a apropriação total do bem alheio, mesmo que isso inclua roubar, destruir e matar aos outros. Contrariamente a isso, Jesus não é ladrão, pois Sua obra é o oposto disso: trazer a vida abundante, que é a vida eterna, espiritual. Em momento algum o Mestre cita a existência ou atuação do diabo.

14. “Buscai, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas.”

15. “Vós escolhestes a Saul sobre vós e vossos filhos, mas eu, o Senhor, não o escolhi; eis agora a Davi, homem segundo o meu coração, a quem tirei do aprisco de seu pai para reinar em Israel.”

16. “Irmãos, não desfaleçais; pois nos últimos dias virá o enganador, transfigurado em anjo de luz, o diabo e Satanás, que seduzirá a terra inteira. Ele surgirá como homem, falando e enganando a muitos, mas os escolhidos não lhe darão crédito.”

17. “E Sansão crescia em força e graça diante do povo de Israel; e era o varão mais forte de toda a terra, pois ninguém se igualava a ele entre os hebreus, os filisteus, os egípcios ou dos do lado da banda do oriente.”

18. “Aproveitando o sono de seu marido, Dalila foi e cortou-lhe as madeixas da cabeça, nas quais não passara navalha desde o nascimento; pelo que perdeu ele suas forças.”

19. “E, após os apóstolos terem visto o Senhor manifestado, chegou Tomé ao lugar em que estavam reunidos; contando-lhe os discípulos que o Senhor ressuscitara, e que havia aparecido a eles, não creu ele, pois era incrédulo, e duro de coração.”

20. “Vigiando em todo o tempo acerca do vosso falar e do vosso trato com os outros, pois Satanás anda em derredor, anotando nossas palavras; vede, portanto, que vossos dizeres não sejam usados para condenação, mas para glória no Dia do Senhor Jesus.”

21. “Acautelai-vos, pois Satanás, vosso inimigo, aguarda o momento de vosso desânimo para vos arrastar para o inferno, onde há pranto e ranger de dentes.”

22. “O diabo marca toda palavra que falamos.”

23. “E aconteceu que, com a pregação de Pedro, mais de três mil almas se converteram no dia de Pentecostes.”

Com certeza, muitos outros versículos “falseados” tem aparecido pelo mundo afora. Estes são os que conheci até hoje, sem contar as conclusões totalmente infundadas que alguns têm feito sobre textos bíblicos, tais como:

a) Pregar que Jesus levou nossas doenças físicas, baseando-se em Is 53.4,5, que é uma profecia do Antigo Testamento, que deveria ser interpretada à luz do Novo Testamento, em Mt 8.16,17 e 1Pe 2.24;
b) Ensinar que a prosperidade é um direito dos cristãos, com base nas promessas de Dt 28.1-14, enquanto as instruções sobre as guerras aos cananeus são espiritualizadas;
c) Declarar que a Igreja será arrebatada antes da Grande Tribulação, construindo um castelo de areia sobre 1Ts 5.9, em vez de ler este versículo à luz de Ap 14.10;
d) Isolar o texto de Dt 6.4 para negar a pluralidade de Pessoas na unidade de Deus, enquanto o Novo Testamento ensina que essa unicidade é formada por “o Pai, a Palavra e o Espírito Santo” (1Jo 5.7, Almeida), sendo que o próprio Antigo Testamento já deixa isso implícito (Gn 1.26 c.c. Is 44.24).

Além disso, ouvimos também as frases engraçadas, que são facilmente identificadas por qualquer conhecedor mediano das Escrituras:

“Se ajude, e Eu te ajudarei”.

“Quem pariu Mateus que o cuide”.

E por aí vai.

Autor: Rafael Gabas Thomé de Souza

Fonte: http://bereianos.blogspot.com

4 de outubro de 2010

Disseram o que eu diria

Amada Marina,

Não sei se venceremos com você esta eleição, mas não importa, pois, seja como for, o testemunho da fé, da esperança e do amor já venceram em sua e em nossas vidas nesta eleição!


Você — diferentemente das Plantas Doces e Nobres do Apólogo de Jotão, no Livro Bíblico dos Juízes de Israel —, por ser filha das dores e gemidos da Floresta, ofereceu-se para dar sua doçura, gosto e azeite a todas as demais árvores da Floresta.
É triste ver, todavia, que há muita gente criada no Concreto e no Deserto, e que prefere o reinado do Espinheiro! Até decoram suas casas com espinhos; sim, com cardos e abrolhos!
Você, Marina, é simples e ampla: é Marina e é da Floresta; talvez porque nas nossas terras amazônicas os rios sejam verdadeiros mares.


O Lula é do Mar, mas o Mar é maior do que Lulas!
Marina da Floresta; Marina Oliveira [azeite] Videira [vinho novo] Figueira [doçura] Silva [do Brasil]; Marina dos Rios Mares; saiba: que os céus permitam que seja agora[...], mas se não for já, todavia, logo chegará a hora em que as lulas saberão que não é o mar que precisa da lula, mas a lula do Mar.


Vou sair para votar em você!

Pela primeira vez em 56 anos de vida votarei com alegria, certeza, consciência do melhor e toda a esperança de que algo bom e novo aconteça!
Seja como for, amiga e irmã Marina, você já se tornou para o imaginário nacional a Marina Gandhi do Brasil!


Que o Senhor de todos os homens honre a sua vida; e que você nunca seja enganada por nenhum ardil do mal!

Marina, nós todos, os que amamos o Evangelho, nos sentimos honrados no Senhor por podermos ainda ver que o bem pode existir na Política.

Nele, que amou você, Marina, e a deu como Graça a muitos nestes dias,

Caio
3 de outubro de 2010
Lago Norte
Brasília
DF


(Pastor Caio Fábio em seu site caiofabio.com)

1 de outubro de 2010

A famosa (in)justiça social

Não pude deixar de notá-lo, mesmo envolvida com a leitura de Bechara. Ao entrar no trem ficou “preso” na porta, pensei eu que poderia machucar-se, não sabia que assim como eu bebo águia, ele se esquiva da porta do trem todos os dias, e o mais triste é que não são só essas portas que se fecham pra ele.

O grito era enlouquecedor: - Três serenatas, um real, três serenatas um real, ele bradava enquanto se locomovia pelo “cara-de-lata” da supervia. Eu, absorta em minha bolha praguejei: - Impossível estudar nesse lugar. Mas logo me esqueci do rapaz e concentrei-me novamente na leitura, exatamente no tópico “Tradicionalismo e mudança”. Não tardou muito para que chegasse ao meu destino. A aula de Redação Jurídica muito me animou. Discutimos a questão ambiental e a mudança de paradigmas referentes à escassez dos recursos naturais. Falou-se muito das pessoas desfavorecidas social, cultural, e economicamente, dos ditos “dominados”, que pouca informação possuem e em detrimento disto desconhecem muitos de seus direitos e deveres, não sabendo também como requerê-los.

Devaneei no decorrer da aula sobre a injustiça social, sua origem, suas conseqüências, e suas possíveis soluções. A nenhuma conclusão cheguei. Até que de volta ao trem, desta vez lendo Helênio em sua dissertação sobre o correto e o incorreto na linguagem, eis que ouço novamente aquela voz que outrora muito me incomodara: - Três serenatas, um real, três serenatas um real. Levantei os olhos, que até então permaneciam baixos e envergonhados, e compreendi, sentindo mais próximo a mim do que minha própria respiração, o que era a injustiça social, e como ela se configurava ali, bem na minha frente.

Enquanto aquele rapaz que aparenta ter a mesma idade que eu, passou a noite esquivando-se de portas, gritando “serenata, um real” pra ganhar por dia, talvez menos do que eu gastei hoje no Habib’s. Essa Juliane um tanto quanto idiossincrática, estava em uma Universidade estudando a lei, ficando a par de seus direitos e deveres, desenvolvendo seu intelecto, e também, praguejando contra um irmão da mesma cor, da mesma idade, e ideologicamente “separado” por um infinito de baboseiras que chamamos carinhosamente de critérios socias,assim como a cor da pele, o nível de escolaridade, a boa aparência, etc... Talvez ele nunca descubra o que eu aprendi em uma noite, e se o fizer, talvez nem consiga transliterar em uma folha de papel a dor que sente, porque até isso lhe foi negado.

Juliane Ramalho


“O homem é o lobo do homem” (Thomas Hobbes)