Diziam: “Você precisa ser flor! Precisa exalar perfume de Flor!”. Exigiram da flor o que ela seria naturalmente. Mas os espinhos cresceram muito. E eles queriam só a flor, não suportaram os espinhos. Os espinhos machucavam, furavam a carne. Faziam esquecer a beleza da flor. Chegavam sorrindo pela flor e saíam chorando por causa dos espinhos. Então, tiraram seus espinhos. Limparam todo o ramo, deixando só a flor.
Mas a flor não suportou. Quando tiravam-lhe os espinhos, balaçaram muito e a fágil flor despedaçou. Então desprezaram a flor. Viraram as costas pra ela. Era uma flor sozinha, sem espinhos e sem admiradores. Sem pétalas e sem beleza. Sem perfume e sem flor. A flor não suportou.
Amanhecia todos os dias esperando suas últimas pétalas secarem. Morria a cada alvorada. Cada Pôr-do-Sol era uma despedida. Despedida pra ninguém, despedida pra luz da vivência, pro calor da existência. Chorava a flor, sua morte a fazia sofrer.
Então morreu. Morreu matada. Morreu sem a chance de redimir-se. Morreu não no caixão da funerária, não no boquê apaixonado, não no frasco do perfume. Morreu no útero. Morreu no caule, onde deveria viver.
E lá se foi mais uma flor. Quem se importa? O importante é tirar espinhos, esquecer que espinhos fazem parte da vida da flor. Mas uma nova flor renascerá. Pois mataram a flor, mas deixaram seu caule. Deixaram a raíz. A raíz está no chão, onde ninguém vê, e onde ninguém é incomodado por ela. A raíz deu vida ao caule, e o caule nos deu outra flor. E essa, gritava a vida, cantava a existência. Celebrava o conjunto. Até que vieram…
Hudson Almeida
Um comentário:
Até que vieram e, finalmente alguém percebeu que na verdade as rosas não tem espinhos, mas os espinhos é que tem rosas. E então, valorizaram a beleza da rosa, buscaram as qualidades divinas desta linda flor que cresce entre os espinhos. Esta é uma característica do amor, e só quem tem o Evangelho de Cristo cravado em seu coração consegue esquecer as cicatrizes causadas pelos espinhos da rosa. Muitos de nós negligenciamos a beleza da flor e analisamos apenas seus espinhos, seus defeitos, negligenciamos o valor da alma de quem está ao nosso redor, porém, ainda que os espinhos sejam tão notáveis quanto a rosa, o seu perfume sempre há de existir.
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